Uma crítica ao estruturalismo e ao pós-estruturalismo.
Imaginemos por um momento um mundo sem verdades absolutas, sem regras opressoras. Num mundo sem um deus para corrigir e punir. Somos livres para escolher. Liberdade completa. Ao mesmo tempo em que há total liberdade para escolher o certo também há para fazer o errado. Na realidade não, pois, como disse Nietzsche, a moral é uma invenção do homem. Segundo seu livro: “Assim falou Zaratustra” o homem caminha para uma moral superior. Não mais uma moral baseada no medo da religião (Deus está morto), mas no homem. Embora o próprio Nietzche não tenha conseguido criar essa nova moral. O profeta Zaratustra chama o homem de uma ponte que liga o macaco ao super-homem, isto é, o homem está em um processo de evolução.
Estranhamente o próprio Nietzsche conta a história do louco que, nas primeiras horas da manhã, entra no mercado com um lampião na mão, exclamando: “Procuro Deus! Procuro Deus!” E, como muitos à sua volta não crêem em Deus, ele provoca muitos risos. "Talvez Deus tenha saído em uma viagem ou emigrado!", eles riem. Então, eles os provocam e zombam dele. Então, escreve Nietzsche, o louco para no meio deles e crava-lhes o olhar: “Onde está Deus?”, ele grita. “Eu lhes direi. Nós o matamos, vocês e eu. Todos nós somos seus assassinos. Mas, como fizemos isso? Como pudemos beber o mar? Quem nos deu a esponja para apagar todo o horizonte? O que fizemos quando desamarramos esta terra do seu sol?Para onde ela está se movendo agora? Para longe de todos os sóis? Não estamos caindo sem parar? Para trás, para os lados, para frente, em todas as direções? Restou algum acima ou abaixo? Não estamos vagando por um nada infinito? Não estamos sentindo a respiração do espaço vazio? Não ficou mais frio? Não está anoitecendo mais e mais? Não devemos acender lampiões de manhã? Não ouvimos apenas o barulho dos coveiros que estão sepultando a Deus? Deus está morto! E nós o matamos! Como nós, os maiores dos assassinos, consolaremos a nós mesmos? A multidão olhou para o louco em silêncio e perplexidade. Por fim, ele joga o lampião no chão. Cheguei muito cedo - ele disse – esse acontecimento incrível ainda está a caminho. Ainda não atingiu os ouvidos do ser humano.”
No final das contas, Deus, a moral, a idéia de humanidade, a lógica, a possibilidade de estruturar o conhecimento, tudo não passa de uma construção lingüística criada por homens que queriam explicações. Essa é a idéia geral do livro: “Genealogia do Saber” de Michel Foucalt. Esse é o pós-modernismo e o pós-estruturalismo. Uma nova corrente filosófica que diz: tudo são construções humanas. Logo a verdade não existe ou são verdades são relativas e temporais.
Essas novas convicções vieram de uma crítica ao modernismo e ao estruturalismo. Em suma, o modernismo acreditou que tudo pode ser explicado pela ciência. Um exemplo disso é o Positivismo de Augusto Comte. O estruturalismo acredita que tudo pode ser explicado por uma estrutura, cuja qual está contida numa estrutura maior e assim por diante. Perceba como essas duas correntes estão interligadas.
Vejamos alguns problemas relativos a essas perspectivas. Primeiramente: a morte de deus e da moral. Conquistamos a liberdade, mas uma liberdade total, desprovida de limites. Quem pode dizer que é errado a exploração do homem pelo homem, como propôs Marx, embora sem um padrão moral absoluto. Sem isso, podemos adequar as regras às nossas necessidades, isso parece ser anti-ético (depende da perspectiva). Mas os problemas vão mais a fundo. C. S. Lewis revelou o absurdo de se esperar virtude de pessoas a quem foi ensinada que não existe virtude: “Num tipo de simplicidade assustadora, removemos o órgão e exigimos a função. Fazemos homens sem peito e esperamos deles virtude e iniciativa. Rimos da verdade e ficamos chocados ao encontrarmos traidores em nosso meio. Castramos e esperamos que o castrado seja reprodutor”.
Uma das frases mais impactantes que já ouvi foi a seguinte: “Sem um padrão moral absoluto não é possível diferenciar Madre Teresa de Calcutá de Adolf Hitler”. É cruel, mas é verdade. Num mundo sem virtudes absolutas quem será altruísta, visto que é difícil ser altruísta. Seremos todos egoístas. Se após a morte não há nada, então “comamos e bebamos porque amanhã morreremos” Danem-se os pobres e oprimidos. Um dia a vida acabará e não haverá diferença alguma entre fazer isto ou aquilo. Como já foi dito por Dostoievski: “Se não há imortalidade, tudo é permitido”. É exatamente isso que Nietzsche quer dizer quando descreve a história do louco. O que tem a ver a morte de Deus com o fim da moral? Tudo. Um deus pessoal definiria qual a moral a ser seguida, alguns consideram tal atitude uma intromissão em suas liberdades. Segundo o deus cristão, o qual é, por definição, infinitamente bom, criaria um conjunto de regras objetivas. Matando Deus, matamos a moral e matando a moral, nos matamos, como disse Nietzsche.
A morte de Deus também implica o fim de todo o significado da vida. Numa visão modernista o homem é fruto de ACASO + MATÉRIA + TEMPO. Nada animador. Assim, depressão, medicação tarja-preta e suicídio são as conseqüências. Alguém pode tentar escolher um sentido para si, mas isso é somente auto-ilusão. O universo não ganha um sentido porque lhe demos algum. Isso é lógico. Enfim, talvez a única questão que realmente precisaria ser respondida é esta: por que vivemos? Talvez para aproveitar alguns prazeres, ou por medo do que há depois da morte. O homem moderno copia Salomão: “vaidade de vaidades, tudo é vaidade”.
Resumo: matamos deus, a moral, nós mesmos, o significado da vida. Não temos uma razão para viver, e só temos um mundo cruel para fazer isso. Essas são as conseqüências de um mundo moderno ou pós-moderno.
Continuemos a análise. Alguns pós-estruturalistas consideram a liberdade atual positiva. Por não terem uma visão segundo a que foi proposta acima (que é a do pai de tal corrente filosófica). Segundo Alfredo Veiga Neto – professor da UFRGS, pesquisador no campo do currículo – alcançou-se a possibilidade de discussão, “pois tudo é político”. Parece-me que para ele não há por que discutir se matar é errado. Entretanto é esse o ponto que quero chegar, ele não tem o direito de afirmar isso sem uma base apropriada de ética. Porém, se tudo é relativo, essa base na existe. A menos que ele diga que é óbvio, mas se é óbvio então é intrínseco a todos, portanto existem valores morais objetivos, o que contradiz toda a filosofia pós-estruturalista. Aliás, repare no seguinte argumento: (1) Se Deus não existe então não existe valores morais objetivos. (2) Existem valores morais objetivos. (3) Conclusão: Deus existe. Isso mostra como esse sistema filosófico é contraditório logo em sua base, logo qualquer conclusão lógica derivada dessas afirmações é falsa e deve ser rejeitada. Se o professor não quiser concordar comigo terá de explicar alguns pontos além dos que já foram postos. Terá de explicar porque o altruísmo é e foi sempre exaltado em todas as culturas e o egoísmo foi rejeitado em todas as culturas. Bem como a fidelidade, e o cuidado pela educação dos jovens. Um pós-estruturalista deve responder a essas questões sem fazer uso do consequencialismo, já que não há ninguém capaz de prever todos os acontecimentos para dizer se tal atitude é boa ou ruim. Certamente não estou fazendo uma critica pessoal ao professor, apenas usei seu exemplo por ele representar uma classe de intelectuais contemporâneos.
Tanto o modernismo quanto o pós-modernismo tem uma falha fundamental. O modernismo afirma que todo conhecimento pode ser alcançado pela ciência. Podemos dar exemplos de que isso nem sempre é valido, como a arte, a beleza, a identidade única do indivíduo, entre outros. Existe uma em especial que me chama mais a atenção. Quero saber se o conhecimento de que “todo conhecimento pode ser alcançado pela ciência” foi, de fato, alcançado pela ciência. Parece irrelevante, entretanto mostra que o princípio primeiro não suporta o próprio peso. Em se tratando de uma cosmovisão, a mesma inicia com falhas. Podemos supor sem demonstrar que esse princípio é verdadeiro (justamente por que princípios primeiros não são demonstráveis), mas todo sistema deduzido desse problema é inferior a qualquer outro que possua um principio primeiro auto-justificado, ou seja, ele aplica-se a ele mesmo. Não estou dizendo com isso que a ciência é algo ruim, apenas que a função dela não é descobria a verdade sobre o mundo. A função da ciência é dominar a natureza afim de tornar a vida humana mais agradável. Assim, até a ciência perde seu propósito, pois não há uma razão intrínseca em ajudar a humanidade, bem como não há razão para a caridade ou qualquer ato altruísta, pois o ser humano perdeu seu valor intrínseco ao tornar-se ACASO + MATÉRIA + TEMPO.
Analogamente com o pós-modernismo. Ele afirma que a verdade não existe, mas essa já é uma afirmação que invoca uma verdade. Alguns afirmam que a verdade é relativa, mas essa frase já invoca um conhecimento absoluto da verdade. Outros afirmam que o conhecimento real (verdadeiro) não é possível, mas isso já é um conhecimento real sobre algo. Enfim todo sistema derivado de tais premissas é uma falácia lógica, pois, diferente do caso anterior em que a premissa não se justificava, neste caso temos uma premissa auto-contraditória. Se supuser que ela é verdadeira concluímos que é falsa, por aplicação direta da mesma.
Se supuser que a verdade é relativa concluímos que “cachorro” significa “cachorro” em alguns casos e que “cachorro” significa “parede”
Neste breve comentário sobre o estruturalismo e pós-estruturalismo, modernismo e pós-modernismo tentamos mostrar como um é o frio e contraditório o mundo dessas concepções. Podemos ou escolher o trio: depressão, remédios, suicídio ou rejeitar tais propostas e buscar uma que valorize o valor intrínseco do ser humano. Infelizmente para alguns, a única cosmovisão que dá ao homem um valor intrínseco é a religião. Não qualquer religião, mas uma religião com deus pessoal, para que ele possa ter uma moral objetiva e possa decidir qual o propósito intrínseco do ser humano. Uma terceira possibilidade é ignorar tudo que foi dito aqui. Pessoalmente considero esta última irracional.